25.4.11

Árvores, frutos, pássaros: uma história



Naquela quinta havia muitas árvores. Eram árvores de fruto. Também havia pássaros, grandes e pequenos, uns de bico amarelo, outros de bico encarnado, outros de bico lilás... E cinzentos de penas ou pretos ou castanhos... E de outras cores. Muitos pássaros, todos chilreantes. Não era para admirar. Os pássaros gostam das árvores, principalmente dos frutos. E as árvores também gostam dos pássaros. Naquela quinta só havia uma árvore sem pássaros e sem frutos. Era uma árvore triste. Sequinha de tristeza, despida de folhas, a árvore destoava, no meio daquele pomar frondoso. Sentia-se a mais, muito desolada, muito só, muito perdida. A infelicidade ela sabia o que era. Até que, uma noite, a árvore sonhou que se enchia de flores. Sonhou que se enchia de flores e que das flores nasciam pássaros. De que cor? De todas, até das cores que ainda não têm nome. A árvore sonhou que os pássaros coloridos voavam à volta dela, cantando e batendo as asas. Depois, cansados, os pássaros poisavam na árvore e transformavam-se em frutos. Frutos, já se vê, de todas as cores. Às vezes, as árvores tristes têm sonhos assim, sem explicação nem sentido. Mas o que depois sucedeu a esta árvore é que parece fantástico. Calculem que, no dia seguinte, quando acordou, a árvore estava, realmente, cheia de flores - as flores que anunciam os frutos, os frutos que chamam os pássaros... (de António Torrado)